A nutrição parenteral (NP) tem por objetivo suprir as necessidades nutricionais de pacientes que não conseguem supri-las utilizando a via digestiva, e pode ser individualizada (bolsas manipuladas, conforme necessidades do paciente) ou padronizada (soluções prontas para uso).
É importante salientar que existem poucos estudos randomizados controlados comparando bolsas manipuladas com bolsas prontas para uso, sendo que a maioria deles não mostra diferença em termos de desfecho (tempo de internação e mortalidade) quando comparadas as duas técnicas de preparo. Dois estudos, anteriormente publicados, mostraram uma maior incidência de infecção de corrente sanguínea com o uso da bolsa manipulada, porém precisam ser cuidadosamente avaliados quanto a sua proposta e desfecho, conforme discutido a seguir.
O primeiro deles, publicado em 2012, observou um aumento da incidência de infecção de corrente sanguínea com o uso de bolsas manipuladas. Trata-se de um estudo retrospectivo com análise de uma base de dados. Os hospitais que utilizaram bolsas prontas para uso eram de menor complexidade e a maioria em áreas rurais. A população também não era comparável em termos de idade e diagnóstico, tendo por exemplo, bem mais pacientes cirúrgicos no grupo da manipulada. Além disso, os pacientes do grupo da manipulada, receberam NP por mais tempo e apresentavam maior número de vias no cateter, o que é sabido aumentar o risco infeccioso por si só. Não houve diferença na mortalidade.
O outro foi um estudo prospectivo que também observou aumento de infecção com o uso de bolsas manipuladas. Esta infecção foi diagnosticada por cultura do cateter utilizado para infusão de NP, porém não houve diferença na incidência de sepse e choque séptico (infecções graves), nem nos dias de uso de antibioticoterapia. Ainda, não foi observado diferença no tempo de internação e mortalidade entre os grupos.
Finalmente, um estudo publicado recentemente, prospectivo e randomizado comparou a utilização de bolsas manipuladas e prontas para uso em relação à eficácia nutricional, segurança e tempo de preparação. Foram incluídos pacientes cirúrgicos em pós-operatório que necessitaram de NP durante pelo menos 6 dias. As variáveis analisadas foram: pré-albumina e proteína C-reativa (PCR), tempo de preparação da bolsa, duração da internação hospitalar (LOS), mortalidade de 30 dias e ocorrência de eventos adversos. No total, 240 pacientes participaram do estudo.
Os autores observaram que ambos os tipos de formulação apresentaram igual eficácia nutricional e segurança. O tempo de preparação foi maior nas bolsas manipuladas do que nas prontas para uso, porém não foram detectadas diferenças nos desfechos como tempo de internação e mortalidade de 30 dias. Desta forma, como conclusão, os autores ressaltaram que ambas as formas de preparo de NP são igualmente seguras para uso em pacientes cirúrgicos.
Referência:
1. Pontes-Arruda A1, Zaloga G, Wischmeyer P, Turpin R, Liu FX, Mercaldi C. Is there a difference in bloodstream infections in critically ill patients associated with ready-to-use versus compounded parenteral nutrition? Clin Nutr. 2012 Oct;31(5):728-34. doi: 10.1016/j.clnu.2012.03.004. Epub 2012 May 8.
2. Pontes-Arruda A, Dos Santos MC, Martins LF, González ER, Kliger RG, Maia M, Magnan GB; EPICOS Study Group. Influence of parenteral nutrition delivery system on the development of bloodstream infections in critically ill patients: an international, multicenter, prospective, open-label, controlled study--EPICOS study. JPEN J Parenter Enteral Nutr. 2012 Sep;36(5):574-86. Epub 2012 Jan 23.
3. Yu J, Wu G, Tang Y, Ye Y, Zhang Z. Efficacy, Safety, and Preparation of Standardized Parenteral Nutrition Regimens: Three-Chamber Bags vs Compounded Monobags-A Prospective, Multicenter, Randomized, Single-Blind Clinical Trial. Nutr Clin Pract. 2017 Aug;32(4):545-551. doi: 10.1177/0884533617701883. Epub 2017 May 24
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